terça-feira, 4 de novembro de 2014
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Tu és meu - 8 (conto gay)
Para ver inicio - cap 1
8
8
Quando
regressei à mesa estava bem mais calmo do que ele parecia ter ficado. Eu tinha
pensado sobre as coisas e tinha tomado uma decisão, sentia-me bem comigo
próprio… era o dominador que pressionava o submisso, não o contrário… o que eu
estava a fazer não podia ser.
-
Já cá estou. – sorri-lhe – não fugi.
Ele
parecia um bocado ansioso e o seu olhar estava tão penetrante como sempre. Não
sorriu com o meu comentário como eu esperara que fizesse, mas achei que se
tinha descontraído um pouco.
-
Estás bem?
-
Sim. – respondi acenando com a cabeça bem comportado
-
De certeza? – pareceu desconfiado
-
Sim. – tornei, resistido a dizer ‘sim senhor’
-
Então o que foi aquilo? – os seus olhos devoravam os meus, senti-me a corar,
mas aguentei-me
-
Um momento de impaciência… – respondi completamente seguro de mim – não volta a
acontecer.
Ele
olhou-me perplexo e pareceu claramente confuso.
-
Um momento de impaciência! – repetiu lentamente, semicerrando os olhos enquanto
tentava perceber – o que é que isso significa?
Fogo
que o Pedro era mais fácil de aplacar que este. Mas decidi dizer tudo como deve
ser, de forma simples e clara… preto no branco.
-
Significa que eu tive um momento de cavalo selvagem. – expliquei – fui
impaciente, tive tempo para raciocinar, pensei um minuto, percebi que estava
errado e acalmei-me… desculpa…
Esteve
uns segundos em silêncio, a ponderar as minhas palavras.
-
Um momento de cavalo selvagem… – repetiu pensativo
Acenei
com a cabeça sem dizer nada. Continuava desconfiado.
-
E o momento de impaciência deveu-se a quê? Pode saber-se?
-
Desculpa, não volta a acontecer.
-
Não foi isso que eu perguntei! – o seu tom endureceu outra vez e a sua voz soou
tão fria que me arrepiei… como é que ele conseguia fazer aquilo?
-
Eu prefiro que não me respondas e me digas que não me queres responder, como
fizeste antes de virmos, do que desvies o assunto… senti-me mal.
-
Preferes?
Acenei
com a cabeça a confirmar, continuando de olhos fixos no copo vazio da
caipirinha. Agora estava a sentir-me mesmo mal… isto era tão intenso e tão
stressante…
-
E preferes carne ou peixe?
Olhei-o
abismado. O quê? Nem um músculo da
sua face se mexeu, nada, parecia uma máscara de carnaval, daquelas sem
expressão.
-
Prefiro carne. – disse completamente confundido
-
Bife de vaca?
-
Sim, pode ser.
Foda-se! Mas que porra?… já tinha
vontade de dizer dois palavrões na mesma frase.
-
Outra caipirinha para acompanhar ou queres outra coisa?
-
Caipirinha se faz favor.
Ele
chamou o empregado e ficou a olhar-me em silêncio até ele chegar.
-
Dourada escalada e bife de vaca bem passado… duas caipirinhas para acompanhar e
uma garrafa de água de meio litro, fresca e sem gás, com copos para dois. – pediu
com a maior das descontrações, realmente dar ordens era uma coisa a que estava
habituado e que fazia com a maior das simplicidades
Tive
vontade de rir quando o empregado lhe respondeu com um ‘sim senhor’, mesmo
sabendo que não era no sentido que… mas mantive a boca fechada, claro, nem me
atrevi a sorrir.
O
silêncio regressou. Senti o seu olhar permanente, senti-o bem… de vez em quando
eu olhava-o também, mas não aguentava mais de um segundo.
-
O que se passa, Nuno? – acabou por perguntar
-
Nada. – sorri tentando parecer despreocupado
-
Como nada? – bradou num tom abafado, em claro esforço para se conter – de
repente tens uma explosão que ainda agora não estou certo de ter entendido bem,
depois vais para a casa de banho e desapareces durante 9 minutos! – calou-se
subitamente quando o olhei sobressaltado – que foi?
-
Contaste os minutos?
-
Não estava propriamente ocupado, pois não? – bufou – até te digo mais, tive de
fazer um grande esforço para não me levantar e ir ver o que raio te estava a ocupar
tanto tempo… mas finalmente voltas, sentas-te e não abres mais a boca a não ser
para proferir umas simples palavras soltas… é suposto eu achar que não se passa
nada?
Senti-me
a afundar na cadeira… foda-se, mas eu não fazia nada bem? Não conseguia aguentar
o seu olhar, ele parecia mesmo irritado.
-
Olha para mim se fazes favor! – ordenou azedo
Encarei-o…
sentia a cara a ferver, devia ser capaz de aquecer todas as casas do país
durante um ano.
-
Não se passa nada.
-
Como não? – resmungou impaciente – eu compreendi o que disseste, mas agora és
tu que me estás a passar um atestado de estupidez!
-
Eu sei que um submisso não abre a boca sem que lhe seja dirigida a palavra! –
defendi-me com a verdade… não estás a ser
justo, meu…
Ele
abriu os olhos de espanto e manteve-os assim enquanto tentou entender o que eu
acabara de dizer.
-
E tu estás-te a comportar como um submisso…
Acenei
com a cabeça sem saber o que ele iria dizer daquilo. Vi os olhos
semicerrarem-se enquanto os cantos da sua boca estremeceram, ouvi o que pareceu
um soluço… pensei que o tinha posto mal disposto mas finalmente, para minha
suprema frustração, abriu a boca para desatar a rir às gargalhadas.
Eu
nem queria acreditar naquela merda. Ele não se estava só a rir às gargalhadas,
estava-se a rir a bandeiras despregadas… todas as pessoas das mesas ao lado
estavam a olhar para nós e a sorrir, as gargalhadas dele eram tão genuínas,
estava a rir-se com tanta vontade que era contagiante… eu só não me ri porque
me estava a sentir frustradíssimo… acho que só a expressão americana é que
consegue explicar o que me passou pela cabeça… What The Fuck?!!... foram uns poucos de minutos daquilo, parecia
que nunca mais parava. Puta que pariu!
-
Oh Nuno, tu és impagável! – conseguiu finalmente dizer – tu não existes… leste
isso no Google, foi?
-
Na Wikipedia. – eu devia estar cor de beterraba – não é verdade?
-
Mais ou menos. – respondeu, inspirando fundo para recuperar o folego
-
Mais ou menos é um bocadinho vago. – lancei abespinhado… mas que porra…
Ele
sorria abertamente.
-
Olha Nuno, mesmo que não tivessem acontecido imensas coisas ontem e hoje que me
deram muito prazer, mesmo que não me tivesses feito sentir uma série de emoções
de que eu já tinha saudades… só este momento faria com que tivesse valido a
pena conhecer-te!
-
Porque fiz de palhaço? – resmunguei contendo-me para não cruzar os braços
-
Não fizeste de palhaço, Nuno, o que tu fizeste foi adorável, foi um momento de
uma inocência e de uma ingenuidade que só poderia ter saído de um miúdo doce
como tu.
-
Eu não sou doce! – cerrei os punhos debaixo da mesa
-
És sim, Nuno, és mesmo… podes ter um recheio amargo às vezes, mas és um doce
sim, o Paulo está absolutamente certo sobre ti. – pelo menos estava sorrir –
porque é que o fizeste? Explica-me…
-
Pensei que gostasses. – disse de sobrolho franzido, não tinha gostado mesmo
nada daquilo
-
Querias agradar-me? – sorria deliciado e os seus olhos faiscaram percebendo
que, mesmo sem responder, a minha expressão lhe dissera o que queria saber – estás
a esforçar-te para me agradar, não estás? Para que eu goste de ti…
-
Estou! – admiti
-
Eu gostei do que fizeste, Nuno. – assentiu – eu gosto do que fizeste, mas gosto
em algumas circunstâncias, não sempre, não contigo, não ainda, nunca num
momento como estes… entendes?
-
Mau sentido de oportunidade? – encolhi os ombros, aborrecido
Ele
riu-se novamente.
-
Um pouco, sim… eu tenho tido muito prazer com o Nuno conversador, que diz o que
pensa, que é rebelde e me surpreende com as suas reações…
-
Bem… surpreendi-te agora, não foi?
-
Isso é indiscutível! – confirmou com um sorriso de orelha a orelha que eu nunca
lhe tinha visto – eu não me lembro da última vez que me ri com tanta vontade,
decididamente surpreendeste-me… e digo-te mais, de todas a vezes que já me
surpreendeste, este momento bateu tudo e vai diretamente para o primeiro lugar,
vai ser difícil conseguires superar-te!
-
Eu achei que tinha passado das marcas e quis compensar sendo mais submisso e
portando-me bem. – tentei justificar-me
-
E portares-te bem é não falares?
-
Não sei, só sei que é uma das coisas que… pronto… vocês gostam…
Atrapalhei-me
um bocadinho na explicação.
-
Nós? – os seus olhos cintilavam de gozo
Eu
estava completamente confundido, mas ele parecia deliciado e estava com uma
cara de quem se estava a divertir imenso. Não conseguia perceber bem aquilo…
estava-me a esforçar para lhe agradar e ele tinha dito aquelas coisas… agora
estava a desconversar?
-
Os dominadores!
-
Entendo… e portanto achaste que não falando me podias agradar…
-
E enganei-me…
-
Eu adorei o teu raciocínio e a forma como tentaste, mas neste caso específico
enganaste-te, sim… e vou-te explicar porquê…
O
empregado chegou com as bebidas, olhando-nos curioso depois da explosão do
Duarte que fora notada na esplanada, no restaurante, no bar… até devem ter
ouvido no parque de estacionamento. Recebeu um olhar azedo e afastou-se
rapidamente. Devia estar a pensar que ele tinha mudanças súbitas de humor e eu
estava convencido que não se enganava.
-
Estás certo em muita coisa. – continuou ele depois do outro ter desaparecido –
percebeste-me bem, o que eu sou e do que eu gosto, e fico satisfeito com isso,
principalmente por continuares aí sentado… uma coisa é ter alguém absolutamente
atraído por mim e cheio de vontade de… enfim, estou habituado a isso, mas outra
coisa é esse interesse manter-se depois de se saber que tenho um feitio e uns
gostos… complicados… é verdade que sou controlador, sou muito possessivo e,
sim, gosto de dominar as minhas relações… gosto de ser eu a mandar, gosto de
ser obedecido e quando não sou, gosto de aplicar castigos para que quem está
comigo perceba que não pode, nem deve, desobedecer-me novamente…
-
As famosas palmadas…
-
Entre outras coisas… – sorriu – além disso gosto de usar um homem, mas não
gosto de abusar… gosto de ter o consentimento das pessoas com quem me envolvo
para um tipo de relação que é diferente do comum, estou habituado a usar homens
adultos, experientes, que estão perfeitamente conscientes daquilo que desejam e
que sabem perfeitamente quais são os seus limites, entendes?
-
Eu não tenho limites. – disse-lhe
O
seu sorriso abriu-se mais.
-
Tens sim, Nuno, o que tu não tens é experiência e por isso não sabes quais são
os teus limites… cada um tem os seus, são todos diferentes, mas toda a gente os
tem… entendes?
Acenei
com a cabeça… estava a adorar que ele estivesse a falar comigo e a explicar-me
as coisas como deve ser.
-
Por exemplo… do pouco que eu já percebi sobre ti neste domínio, tu aguentas
perfeitamente uma decisão unilateral do teu dominador, do tipo ‘não é da tua
competência, não te digo’… ouves, encaixas e aguentas, mas não gostaste que eu
desviasse o assunto e te ignorasse… percebi que te sentiste humilhado e não
gostaste, tal como te irritas sempre que o Ricardo te provoca mais, tal como te
ofendeste comigo quando te atirei à cara que te tinha pago o café… isso é um
limite que tens, tu não gostas de ser humilhado!
-
Quem é que gosta?
-
Muita gente! – disse ele para meu espanto – há muita gente cujo fetiche é ser
abusado verbalmente, que deliram quando lhes chamam nomes e os colocam em
situações degradantes, há gente que adora ser humilhada… é só um exemplo, eu
pessoalmente não gosto de humilhar, já to tinha dito.
-
Mas fizeste-o!
-
Sim, para te testar e arrependi-me imediatamente! Fiquei a saber o que queria,
mas nunca esperei que tivesse um efeito tão… intenso.
Fiquei
um momento a olhar para ele, só gozando o seu sorriso.
-
Do que é que tu gostas?
Foi
impossível para mim resistir à pergunta.
-
Estás como a mulher do parque de estacionamento outra vez.
-
Achas? – revirei os olhos
-
Vamos com calma, Nuno, vamos com calma nisto… lentamente, ok?
-
Porquê?
-
Porque eu quero! – respondeu-me com os olhos a brilhar – e tu vais-me obedecer…
Fiquei
vidrado nele por um momento… isto ia muito além do que o Pedro fazia ou dizia,
senti-me a estremecer… foi o que disse, foi a forma como disse, o tom, o olhar.
-
Sim senhor! – respondi de olhos fixos nos dele…
Tivera uma inspiração
súbita e acertei em cheio no centro do alvo, ele reagiu exatamente como eu
esperara que reagisse… inspirou profundamente e os seus olhos relampearam. Ele
gostara da resposta, era flagrante.
-
Neste momento estava capaz de te comer aqui mesmo, à frente desta gente toda…
tu és surpreendente!
Raios
partam que eu gostava disto.
-
O que é que aconteceu ao vamos com calma? – lancei
-
Vamos com calma na dominação… pode haver dominação sem sexo e pode haver sexo
sem dominação. – foi a sua resposta tranquila, mas o seu sorriso era
intoxicante
-
E pode haver o pack ‘dois em um’?
O
empregado chegou com os pratos.
-
Pode sim, Nuno… – sorriu abertamente – esse é o meu favorito.
-
Acho que vai ser o meu também.
-
E eu acho que mudei de ideias sobre ti. – disse então e não consegui evitar um
sobressalto apesar do seu sorriso – acho que afinal não te vou tentar domesticar,
não quero faze-lo…
-
Não?
-
Não… vou-te treinar para potenciar as tuas características naturais.
-
Eu tenho características naturais?
-
Eu acho que és naturalmente dócil e gostas de agradar, mas não me pareces que
sejas, ou alguma vez consigas ser, verdadeiramente submisso.
-
Isso é bom ou mau? – franzi o sobrolho
-
Depende do ponto de vista… há quem goste dos seus homens completamente
submissos, apagados e sem vontade própria, bonecos sem personalidade… e há
quem, por outro lado, aprecie algum… fogo…
-
O que é que tu preferes?
Ele
esteve irritantemente a esgravatar no peixe imenso tempo antes de finalmente me
olhar com aquele seu sorriso provocador.
-
Eu prefiro que sejas tu próprio e que me deixes descobrir-te.
Cerrei
os dentes para não mandar um berro e saltar para cima da mesa a dançar o samba…
que aliás nem sequer sei dançar… descobrir-me? Parecia-me muito bem…
-
E domesticar-me?
-
Sim… um pouco pelo menos, mas basicamente treinar-te, moldar-te.
-
Para te agradar…
-
Para me agradares mais, Nuno… se é que isso é possível. Não percebeste já isso?
Eu já vi que estás deslumbrado comigo, tenho experiência suficiente para o
saber sem sombra de dúvida, mas tu estás a ser inesperado e estou muito
surpreendido contigo… gostava mesmo de ter a oportunidade de te conhecer
melhor.
-
Eu agrado-te? – o meu cérebro derrapara logo na primeira frase
-
Nem fazes ideia! – disse antes de franzir o sobrolho… o meu coração parou
imediatamente – e agora é altura de cumprir a minha promessa… nós já estamos a
jantar e o momento surgiu para te responder à tal pergunta…
-
O tal medo…
Ele
acenou com a cabeça.
-
O meu problema é que tu és muito jovem e não tenho a certeza de teres a tua
mente completamente construída, tenho medo de… de alguma maneira… te fazer mal.
– explicou hesitante
-
De me fazer mal?
-
Afinal que idade é que tu tens?
-
Faço 18 anos de hoje a 14 dias.
Percebi
que isso seria um problema quando o vi esbugalhar os olhos e ficar com o garfo
apontado à boca… o peixe caiu-lhe do garfo e ele continuou de boca aberta a
olhar para mim.
-
Tu não tens sequer 18 anos? – exclamou estupefacto
Fodi-me!... pensei abanando a cabeça.
-
Mas que raio… e quando é que estavas a pensar dizer-me isso?
-
Eu não costumo andar por aí a dizer a minha idade. – defendi-me abespinhado –
olá, eu sou o Nuno e ainda não tenho 18 anos…
Aquilo
era para o fazer sorrir, mas não resultou, pelo contrário.
-
Não fales assim comigo, menino! – avisou de sobrolho franzido – não agora, não
estou com paciência!
Senti
um murro no estômago. Devo ter empalidecido.
-
Queres que me vá embora? – perguntei baixinho
-
Não! – respondeu categórico – quero que cales a boca uns minutos e me deixes
processar a informação… não falar sem que te dirijam a palavra, lembras-te?
Isto foi completamente inesperado e está a ser fenomenalmente constrangedor… eu
nunca tive tendências pedófilas antes…
Abri
a boca para lhe responder torto, mas fechei-a novamente perante o seu olhar.
Foda-se!
Era
tão injusto… não podia ser, não podia… eu
faço sexo desde os 13 anos, porra… agora que estava quase a fazer 18 é que
a puta da idade ia ser um problema? Não era possível, não era. Via-o de
sobrolho franzido a tentar comer… estava mesmo melhor que eu porque tinha-me
passado a fome… a fome e o pifo que começava a sentir, a vontade de…
Duplo foda-se!
Ora
fazia o sobrolho, ora erguia as sobrancelhas… estava mesmo a pensar, parecia
que estava falar sozinho. Olhou para mim duas vezes apenas, o que me preocupou
ainda mais… achei que estava perdido… porque é que tinha de ser assim? Porque é
que eu não podia ter sorte um momento na vida? Porque é que eu não tinha
direito a ter um tipo que me… de quem gostasse? Este era o homem mais lindo que
eu vira, estava finalmente a parecer interessado em mim e agora a puta da idade
ia interferir?
Foda-se, tenho quase 18 anos… 14 dias? Como é que isso pode interferir? É
por 14 dias? Eu não vou mudar nada em 14 dias… dasss…
Comecei
a ferver outra vez, mas que raio de sina a minha, tinha de haver sempre
qualquer coisa a lixar-me, meu… parecia impossível… mas que grande praga.
Queria sair dali, mas não o queria aborrecer ainda mais, a minha situação já
estava complicada…
-
Posso-me levantar da mesa?
Isto
despertou-o… parou de comer e olhou-me.
-
Onde vais? – perguntou
Por
mim registei que não manifestara estranheza, achara perfeitamente natural que
eu lhe pedisse permissão para me levantar. Não me iria esquecer disso.
-
Até à beira mar um bocadinho… por favor…
Não
era o momento para meter água, mesmo que achasse que ele não estava a prestar
atenção a detalhes.
-
Não acabas de comer?
-
Perdi a fome.
O
seu sobrolho franziu-se mais ainda.
-
Já está escuro.
-
Tens medo que me perca ou que fuja?
Foi
mais forte que eu, mas felizmente a sua expressão suavizou-se um pouco.
-
Eu não tenho medo de ti. – disse usando a frase que lhe tinha dito antes – leva
o casaco!
Quando
estava a descer para a areia sentia-me um bocadinho melhor. Não sabia o que lhe
estava a passar pela cabeça, mas não devia ser assim tão terrível, pelo menos
não me dissera flagrantemente que não me queria. Eu sabia que ele me queria, já
o tinha mostrado mais que uma vez. Na pior das hipóteses iria esperar até eu
fazer 18 anos… eu aguentava 14 dias. Na melhor das hipóteses conseguia dar-lhe
a volta e fazia-o descontrolar-se, já o fizera várias vezes com o Pedro e conseguira
dera-lhe a volta à cabeça de maneira que ele não queria, mas depois não
aguentara… era mais bruto nessa altura, mas isso não me incomodava…
habituara-me. Este não sabia como reagiria, mas não tinha ar de ser nenhum
monstro… mesmo que me desse umas palmadas… eu podia bem aguentar umas palmadas…
até podia se excitante.
Olhei
para trás e encontrei-o a seguir-me com o olhar. Não se movera, mas não me
perdia de vista… menos mal. Se estava atento a mim, significava que eu lhe
interessava de alguma maneira… e se lhe interessava de alguma maneira… podia
resultar. Quando ele estava presente eu também não o perdia de vista, por isso
sabia bem o que significava controlar e ser controlado. Sentia-me em stress,
mas não estava em pânico como quando ele reagira mal… não gostara de saber a
minha idade, mas também não me descartara completamente, mandara-me calar para
poder pensar.
Eu
podia aproveitar para pensar também. Desta vez falara comigo e isso era sempre
positivo. O que é que eu ficara a saber? Ele era dominador, controlador e
possessivo… certo. Compreendera bem que o Pedro não gostasse de me ver a falar
com outras pessoas, portanto era como ele e isso podia ser uma arma para mim se
fosse bem usada… sorri. Se ele tinha ciúmes eu podia-o picar com isso. Gostava
de ser obedecido e ia-me castigar se eu não o fizesse… isso não era problema
para mim, nem uma coisa, nem outra… sempre tivera de obedecer à minha avó, que
nunca permitiu que eu me esticasse, sempre tivera de obedecer ao Pedro que…
pronto… decididamente obedecer não era um problema e levar umas palmadas também
não, duvidava que ele me magoasse a sério depois de me tratar como me tratou,
com carinho e cheios de atenções… a não ser que fosse doido, afinal ele tinha
mudanças de humor, umas vezes estava muito bem e logo a seguir era frio como o
gelo… e podia estar com aquilo só para me dar a volta e me apanhar na rede… mas
não, não acreditava que me magoasse. Claro que depois teria de ver o que eram
as outras coisas, ele dissera palmadas entre outras coisas… o que seriam as
outras coisas? Castigos? Ia-me tirar a Playstation que eu não tinha? Tive de me
rir.
Sentei-me
numa das cadeiras da linha da frente, junto ao mar. Estava-se ali bem com
aquele casaco polar super quentinho. Cheirava divinamente ao seu perfume.
Ficava-me grande, mas também era natural, ele era bem maior que eu e bem mais
másculo… por favor faz com que ele goste
de mim e não me largue!... olhei para o céu, não sei bem porquê, mas fi-lo
e senti-me bem.
E
que mais é que eu sabia dele? Gostava do ‘sim senhor, não senhor’, mas isso não
era surpresa, também não estranhara que eu lhe pedisse permissão para sair da
mesa… eu também conseguia fazer isso, era só questão de me concentrar… e que
mais? Queria-me moldar para lhe dar mais prazer… ele frisara isso… não para lhe
dar prazer, mas para lhe dar mais prazer… isso significava que eu já lhe dava
prazer, mesmo sem sexo e mal me tendo tocado… isso era o eu ser mais que um
menino bonito e ele dissera que gostava de mim assim, só me queria moldar um
pouco, não queria que eu fosse um boneco.
A
verdade é que eu não me importava de ser um boneco para ele, era um homem
lindo, adorava como ele falava comigo, como me tratava bem, mesmo quando me
repreendia e era mais duro comigo… a verdade era que, naquele momento, eu
estava disposto a ser aquilo que ele quisesse, literalmente o que ele quisesse,
sentia tanta vontade de lhe agradar como sentira durante anos com o Pedro,
talvez ainda mais… estava doido com ele e era capaz de fazer tudo o que ele me
pedisse… estava sozinho e não queria, nunca estivera sozinho, sempre tivera o
Pedro a dizer-me o que fazer e a… sim, era verdade, eu gosto de fazer sexo e
sabia bem que iria sentir falta. Queria alguém assim, que me controlasse, que
me desse uso e o Duarte era tão… fantástico… e era lindo… devia ter um corpo maravilhoso
e devia saber fazer tudo tão bem ou melhor que o Pedro, era gay e tinha muito
mais experiência… porra, não podia pensar mais naquilo, estava a ficar excitado
outra vez, seria possível?
Recebi
uma mensagem… era ele. Fogo, que sentido de oportunidade.
«estás
bem?»
Pensei
um bocadinho, mas respondi quase imediatamente.
«sim,
estou a pensar»
A
sua resposta foi imediata.
«em?»
«ti»
Eu
sei, a resposta foi um bocado foleira, previsível e isso tudo, mas era a
verdade. Ele pode ter pensado o mesmo, mas não o demonstrou.
«bem
ou mal?»
«estou
com medo»
«de
mim?»
«de
não me quereres»
«achas
possível?»
«não
sei. Espero que não»
«sério?»
«muito»
«vem
para cima. Os teus amigos estão aqui»
-
Porra! – exclamei bem alto
«e
os teus?»
«também…
porta-te bem»
«vou
portar»
«não
sei se acredito»
«apostamos?»
«o
quê?»
«não
me rejeitas por causa da idade»
«só
isso?»
«sim»
«e
se não conseguires portar-te bem?»
«castigas-me…
faço o que quiseres»
«parece-me
bem… sais a perder»
«não
acho»
«não?»
«se
ficar contigo não perco»
Eu
sei… outra vez um bocado foleiro, mas era o que eu sentia, aquele tipo
estava-me a dar a volta à cabeça, meu… sentia-me desesperado por estar sozinho
e ele estava a dar-me atenção, sentia-me desesperado por sexo e ele tinha todo
o ar de… pelo menos tinha de certeza um corpo fantástico e não o conseguia
tirar da cabeça… piroso ou não, eu queria-o e faria o que fosse preciso para o
conseguir ter.
«veremos…
vem»
Desta
vez não respondi, levantei-me e regressei à esplanada fazendo um esforço para
não sorrir demais e não demonstrar muito a felicidade que estava a sentir.
Queria tanto que aquilo resultasse…
Tu és meu - 7 (conto gay)
Para ver início - cap1
7
Parte 8
7
Ele
olhou para o relógio assim que me viu aparecer… sorria enquanto me aproximava,
mas o seu sorriso esmoreceu consoante fui avançando para ele. Eu achava que
estava bem, mas a sua expressão provou-mo. Os seus olhos percorreram-me de cima
abaixo, avidamente e tive de fazer um grande esforço para mão sorrir demais…
-
Nuno! – exclamou – tu estás…
Calou-se
e eu tive vontade de bater palmas.
-
Estou bem? – acho que consegui dar um tom modesto à minha pergunta, pelo menos
tentei porque ter um gajo daqueles a olhar para mim com aquela cara pôs-me o
ego em órbita
-
Estás, Nuno, estás muito bem.
-
A sério? – escancarei a cara num sorriso de orelha a orelha
-
Porquê o espanto? – ele sorriu também, recuperado – deves saber bem que és
muito atraente…
-
Eu?!
Sobressaltei-me.
Aquilo estaria mesmo a acontecer? O tipo mais giro que eu vira na vida, e que
me deixava abismado, estava mesmo a dizer que eu era muito atraente?
-
Será possível? – questionou-se com uma expressão de surpresa no rosto
-
O quê? – perguntei sem perceber
Ele
pareceu confuso e hesitou um momento antes de responder.
-
Que não tenhas consciência que, além de seres um miúdo lindo, és também
extremamente atraente.
-
Eu?! – repeti tão espantado que nem consegui reagir bem ao elogio… o senhor
‘toda a gente cai aos meus pés’ estava dizer que eu era extremamente atraente? Um
de nós devia estar a alucinar… ou ele, ou eu.
-
Não tens mesmo consciência disso, pois não!? – parecia incrédulo
Nem
consegui perceber bem se aquilo era mesmo uma pergunta ou se ele estava a
pensar alto. Senti-me repentinamente ansioso, parecia tudo bom demais para ser
verdade.
-
Tu achas mesmo isso?
-
Acho! – foi a resposta simples – acho mesmo… vamos jantar?
Levantou-se.
-
Eu não tenho dinheiro. – tornei a avisar
-
Outra vez? – exclamou com os olhos a dançar de riso – tens algum restaurante
favorito?
-
Não! – respondi estremecendo ao vê-lo aproximar-se de mim
-
Então posso eu escolher. – senti o seu hálito doce na minha cara – eu prefiro
assim… vamos? – apontou para o carro, fazendo sinal para eu avançar à sua
frente
-
Eu achei que preferisses. – sorri fazendo o que ele mandara… és o Sr. ‘Mandão, sou eu que decido e
controlo todos os momentos do teu dia’, já te estou a tirar a pinta…
Dei
apenas alguns passos até perceber que ele não me seguira. Olhei para trás,
espantado e percebi o seu olhar fixo nas minhas calças. Agora virara-me e ele
já não o podia ver, mas percebi que o seu olhar estivera fixado no rasgão da
perna ao pé do traseiro… senti imediatamente o coração aos pulos. Bingo!
-
Que foi? – perguntei
-
Nada! – sacudiu a cabeça avançando para me alcançar – és muito perturbador, só
isso…
-
Eu? – estremeci de excitação
-
Sim, Nuno, tu… só preciso descobrir se tens plena consciência disso e estás a
fazer teatro, ou se é uma coisa natural em ti…
Ele
entrou no carro e sentou-se com imenso estilo e uma confiança de quem estava
habituado. Por mim fiquei com a mão na porta, sem a abrir, olhando-o por cima
dos vidros fechados.
-
Vais entrar no carro ou estás à espera que eu te vá abrir a porta? – perguntou
de sobrolho franzido – eu costumo fazer isso a algumas senhoras, mas confesso
que nunca o fiz com homens…
-
Porque é que achas que eu estou a fazer teatro? – aquilo estava-me a martelar
no cérebro – o que é que isso quer dizer?
-
Entra no carro, Nuno! – ordenou impaciente – se me fizeres sair, garanto-te que
não vais gostar…
Habitualmente
aquilo tinha-me feito decidir a entrar, principalmente depois de tudo o que
tinha lido, mas não sei o que me passou pela cabeça, em vez do fazer, larguei a
porta e cruzei os braços, desafiador.
-
Eu já não estou a gostar agora… o que queres dizer com eu estar a fazer teatro?
– perguntei de sobrolho franzido – achas que te estou a enganar?
-
Porque é que tens de ser tão difícil? – olhou-me frustrado
-
Eu não sou difícil! – resmunguei na defensiva – agora também não sou assim tão
fácil… diz-me porque é que achas que eu te estou a enganar?
Ele
suspirou, derrotado.
-
Eu não disse que me estavas a enganar, Nuno. – explicou tornando a encarar-me –
o que eu disse foi que tu és extremamente atraente, que és extremamente
perturbador e que eu não percebo se estás a fazer de propósito ou se o estás a
fazer inconscientemente… seja o que for está a resultar!
-
Oh! – foi a única coisa que consegui pronunciar… acho que nem percebi inteiramente
o que me disse, mas soou-me tudo muito bem
-
Portanto não estou a desconfiar de ti, não estou a achar que me estás a
enganar, estou simplesmente surpreendido com o efeito que estás a ter em mim…
agora entra no raio do carro, ou juro por Deus que não sei o que te faço!
Agora
abri a boca e desta vez nem o ‘oh’ consegui pronunciar. Aquilo estava muito
para lá do que eu estava habituado… muuuiiito para lá.
Abri
a porta do carro e sentei-me ao seu lado, apertando o cinto.
-
Eu não estou a fazer teatro. – disse baixinho
-
Também me parece que não. – o seu tom de voz tornou-se doce uma vez mais – o
que ainda é mais desconcertante.
Disse
mais qualquer coisa ao ligar o carro, mas muito baixinho também, o rugido do
motor abafou completamente. Eu não tive coragem de perguntar o que ele dissera,
principalmente porque me pareceu um palavrão.
Levou-me
para a praia. Deu uma volta infernal, pelo centro do Meco, via-se logo que só
conhecia aquele caminho, mas eu nem comentei nada. Tinha a cabeça a andar à
roda, aquilo era tudo muito mais excitante do que eu pudera imaginar… eu devia
ser doido, mas a verdade é que gostava quando o Pedro exercia aquele tipo de autoridade
sobre mim… habituara-me a isso e, decididamente, ao pé deste tipo o Pedro era
um saloio horroroso como homem e um amador como… intimidador-possessivo. Este
era fogo a sério e a questão agora era se eu ia acabar por me queimar? Era
quase certo…
-
Dois cêntimos pelos teus pensamentos. – ouvi
A
maior parte do caminho fora feita em silêncio, ele entregue aos seus
pensamentos, eu entregue aos meus… pelos vistos ele despachara-se primeiro que
eu.
-
Tanto? – foi a minha primeira reação antes de conseguir pensar
Ele
riu-se.
-
Abusador… – acusou a sorrir – quanto queres?
-
Quero que me respondas a uma pergunta.
-
Ah, é pago com informação?
Olhei-o
sério e o seu sorriso desapareceu, vi-o franzir o sobrolho.
-
Pergunta!
-
Há bocado estavas a dizer “a minha dúvida…”
-
Não me lembro. – disse pensativo – eu tenho uma série de dúvidas, não estou a
ver qual possa ser…
-
Antes de receberes a mensagem deles para jantar… eu perguntei-te se também eras
controlador e possessivo e tu disseste que eu nem fazia ideia, mas que a tua
dúvida era…
Ele
hesitou por um momento.
-
Já sei, mas não te vou responder a isso agora… respondo-te durante o jantar,
pode ser?
Qual é o teu problema, meu?... mas decidi não me fazer difícil outra
vez.
-
Pode. – acabei por dizer – mas não me vou esquecer…
-
Acredito que não… prometo que te explico essa minha dúvida.
Demos
uma volta na rotunda da praia, mas não havia lugar para o carro, tivemos de o
deixar no parque.
Ele
parou para pagar e a mulher que estava na cabina a receber o dinheiro abriu os
olhos de espanto quando o viu… até recuou quando bateu os olhos nele e precisou
de um segundo para recuperar e a sua boca se abrir num enorme sorriso. Tive
vontade de rir… sabia muito bem o que ela tinha sentido, muito bem mesmo.
-
Que foi? – perguntou desconfiado quando arrancou novamente depois de pagar –
estás a rir de quê?
-
Nada… a mulher ia tendo um colapso quando bateu com os olhos em ti.
Ele
encolheu os ombros, começando a sorrir também.
-
Costumo ter esse efeito em algumas pessoas. – disse com uma expressão matreira
de falsa modéstia que me fez rir mais – mas sabes que o embrulho nem sempre
corresponde à qualidade do produto… é também por isso que eu te quero conhecer
melhor… quero saber se és mais que um menino bonito…
Fiquei
a olhá-lo sem saber o que dizer enquanto ele premia um botão. Ouviu-se um
estalo e a mala do carro começou a abrir-se para deixar a capota sair e
cobrir-nos.
-
Achas-me bonito?
-
Muito! – admitiu – e muito francamente choca-me pensar que tu não tens
verdadeira consciência do quão bonito e perturbador és…
Fiquei
perplexo por um momento… como é que ele dizia estas coisas assim tão
descontraidamente?
-
Comparado contigo? – lancei quando consegui recuperar
-
Por exemplo… – mordeu o lábio para não rir – eu tenho perfeitamente consciência
que sou atraente para a maior parte das pessoas… fisicamente, pelo menos, a
personalidade depois limita um pouco… estou demasiado habituado a reações como
a daquela mulher para saber que o primeiro impacto é sempre positivo, mas
também estou preparado para que fujam de mim como fizeste hoje… embora, como te
disse, nunca tenha acontecido até hoje.
-
Eu não fugi de ti!
-
Ah não? – encolheu os ombros – talvez não…
-
E porque havia de fugir de ti, por seres controlador e possessivo?
-
Sim!
-
E mandão? – acrescentei a sorrir
-
Também! – ele olhou-me, mas não sorriu – pensei que te pudesse ter assustado…
-
Devia ter-me assustado? – franzi o sobrolho também
-
Não. – foi a sua resposta curta, ele começara a falar por monossílabos e
surgira-lhe uma sombra no rosto… ficara algo por dizer, mas ele esforçou-se e tornou
a sorrir – vamos?
Ele
estava com medo que me assustasse? Parecia…
Eu
não estava à espera que ele quisesse àquele restaurante. Podia ser dos melhores
restaurantes do Meco, mas era também dos mais caros. Não era para a bolsa de
todos. Eu parei, quando percebi para onde ele queria ir.
-
Que foi?
-
Queres jantar aí?
-
Não presta?
-
Não sei, nunca comi aí… é caro!
Os
seus olhos brilharam.
-
Mas afinal és tu que vais pagar o jantar? – perguntou mordendo o lábio, esforçando-se
por não se rir
-
Achas? – exclamei – nem sei se tenho dinheiro para uma caipirinha aí!
-
Então se sou eu que pago, sou eu que decido… parece-te justo?
-
Sim, mas…
-
Há outra coisa que tens de perceber sobre mim, Nuno… – aproximou-se de mim – eu
não sei como era o teu ex, para além de ser controlador e possessivo… e mandão.
– acabou por sorrir – mas eu já te disse que não gosto muito de ser
contrariado… não disse?
-
Já vi que não! – respondi com um suspiro
-
Ou estás com medo que te atire à cara que te paguei o jantar?
-
Tu prometeste que nunca mais fazias isso…
-
Então vou perguntar uma última vez… tens alguma coisa contra o restaurante?
-
Para além de ser caro?
-
Sim, para além disso…
-
Não!
-
Então acabou a conversa! – desviou-se e apontou para a porta – à minha frente, se
faz favor!
Comecei
a andar e passei por ele sentindo-me a corar.
-
És sempre assim? – perguntei sem olhar para trás
-
Não… – ouvi sentindo que ele estava a sorrir – algumas vezes sou um bocadinho
pior…
-
Acredito! – respondi sem parar
-
Não te assusta saber isso?
-
Não sei bem…
Continuei
sem o olhar… abri a porta e entrei na zona do bar. Quando ele parou ao meu
lado, foi quando finalmente o fixei… os seus olhos brilhavam como de costume,
tentando adivinhar o que eu estava a pensar.
-
Lá fora? – perguntou sem qualquer comentário à minha resposta – e vemos o por
do sol?
-
Pode ser…
Estava
algum vento, mas ele tirara dois casacos polares da mala do carro e dera-me um…
ainda não era altura para os vestir, mas de certeza que iria acabar por ser
necessário.
Ficou
a olhar-me uns minutos em silêncio quando nos sentámos.
-
Que foi? – acabei por perguntar sem aguentar mais
-
És surpreendente! – acabou por dizer – acho que és realmente mais que um menino
bonito…
-
Eu sou normalíssimo! – argumentei sem perceber o porquê daquilo vindo do senhor
‘eu tenho milhares de gajos atrás de mim’
-
Não, não és Nuno! – afirmou categórico – isso eu te garanto que não és…
-
Não? Então sou anormal?
-
Anormal também não… – mordeu o lábio para não rir abertamente e eu fiquei
vidrado na sua expressão – és extra ordinário!
Fez
a separação das palavras com cuidado.
-
Extra ordinário?
-
Sim… queres que te explique…
Calou-se
quando apareceu o empregado para saber o que nós queríamos.
-
Caipirinha? – perguntou-me e como eu assenti, virou-se novamente para o
empregado – duas caipirinhas e depois podemos jantar aqui, ou temos de mudar lá
para dentro?
Eu
fiquei simplesmente a olha-lo enquanto ele falava com o empregado, explicando o
que queria, quando queria e como queria… lá autoritário era ele, mas era tão
lindo e tinha tanta pinta… e aquele polo ficava-lhe a matar… e eu gostava de
homens assim como ele era, estava visto… ele ser deslumbrante fisicamente era
um bónus.
-
Estás com o mesmo olhar da mulher do parque. – sorriu provocador
Corei
imediatamente.
-
Surpreende-te?
-
Não! – respondeu com um sorriso – estou habituado e sei que atraio muitas
pessoas… vi o teu olhar quando me cruzei contigo no pinhal e vi o teu olhar
quando te beijei!
-
A sério?
-
Porque é que achas que te pisquei o olho?
-
Não sei… porquê?
-
Foi um ‘obrigado… tu também és muito giro’. E porque é que achas que te quis
beijar?
-
Porquê?
-
Foi um ‘obrigado’ por me teres levado ao teu sítio secreto.
Gostei…
gostei mesmo, mas senti-me um bocado embaraçado. Não estava mesmo nada habituado
a que me dissessem aquelas coisas.
-
Tu estavas para me explicar porque é que eu era extra ordinário. – disse
sentindo-me a ferver de satisfação
-
Mas vou-te explicar porque te quero conhecer melhor…
-
Também serve. – respondi fazendo o seu sorriso abrir-se mais
-
Para além de seres um miúdo muito giro?
-
Achas-me giro?
-
Acho… acho mesmo… mas isso não é tão importante como possas pensar… o Ricardo
também é giro e não me atrai minimamente… aliás, até acho que é por isso que
ele te está a provocar, às vezes parece-me que ele gostava de estar no teu
lugar…
-
Qual lugar?
-
Gostava de ter despertado o meu interesse como tu fizeste… de me atrair…
Por
um momento quis-lhe perguntar porque é que dizia aquilo do Ricardo, se ele
percebera alguma coisa mais… mas a minha cabeça estava limitada e havia uma
pergunta mais urgente…
-
Eu atraio-te? – fiquei sem respirar à espera da sua resposta
-
Pensei que já o tivesses percebido… atrais e muito… as minhas duas facetas…
-
As duas?
-
O meu lado bom e o meu lado mais… perverso…
Disse
aquilo com um ar perfeitamente sério, de olhos fixos nos meus para tentar ver a
minha reação, foi a vez de ele ficar suspenso à espera do que eu iria dizer ou
fazer.
-
Sim… acho que já vi um bocadinho das duas. – disse calmamente
Ele
agitou-se na cadeira, parecendo momentaneamente desconfortável naquela posição.
-
Já. – confirmou
-
E eu atraio as duas? – sei que fiz um enorme sorriso, nem queria acreditar no
que estava a ouvir
Pareceu
descontrair-se um pouco… aquela pergunta devia estar entre as reações
positivas.
-
Atrais, muito… gosto do teu estilo, da tua forma de estar…
-
Do meu estilo? – disse eu pensativo – isso é um bocadinho vago…
Ele
sorriu outra vez… eu tinha o seu sorriso lindo outra vez. Nem queria acreditar
que ele estivera a stressar por minha causa, nunca ninguém tinha stressado por
minha causa.
-
Queres que eu seja mais específico? – o seu sorriso tornou-se mais provocador
quando eu acenei com a cabeça – deixa-me ver se consigo… eu gosto muito que
sejas um doce, como o Paulo diz… e como geralmente és, simpático, delicado, cheio
de humor, mas que tem um lado selvagem que responde quando provocado… um cavalo
bravo, que é dócil quando é bem tratado, mas que se empina e dá luta quando o
provocam…
Dasss… um cavalo?... eu juro que estava a adorar cada uma
das suas palavras até à parte do cavalo.
-
Já me chamaram muita coisa… cavalo foi a primeira vez! – lancei um bocado
abespinhado
Ele
soltou uma enorme gargalhada.
-
É uma metáfora, Nuno! Não me passou pela cabeça ofender-te, que nem penses
nisso, sequer… eu não gosto de humilhação! Já te disse isso.
-
Um cavalo bravo, hã?
Eu
não conseguia ofender-me com ele, a sua gargalhada era fantástica e adorava
aquela sua expressão de riso mal contido… acabei a sorrir também, acho até que
gostei da metáfora.
-
Selvagem! – continuou a sorrir
-
Achas que sou selvagem?
-
Acho que sim… às vezes pareces… é isso que quero descobrir, se és mesmo um doce
com um lado selvagem. – ele mordia o lábio para não rir abertamente
O
empregado chegou com as caipirinhas e eu tive tempo de pensar numa resposta à
altura… eu também sabia provocar quando me concentrava, o problema era ser
muito difícil concentrar-me com ele à minha frente, a olhar-me assim.
Quando
o empregado se afastou ainda brinquei um pouco com as palhinhas, mas depois
debrucei-me sobre a mesa para o fixar nos olhos.
-
Isso quer dizer que me queres domesticar?
Os
seus olhos abriram-se mais e as suas sobrancelhas ergueram-se numa surpresa
flagrante. O meu comentário fora inesperado e apanhara-o desprevenido. Os seus
olhos brilharam por um segundo antes do seu sorriso se tornar a abrir, desta
vez enigmático.
-
Sou capaz de gostar de tentar, sim… – foi a sua resposta
-
E achas que consegues?
Tinha
o coração a querer saltar-me do peito.
-
Acho! – foi a resposta dele acompanhando o brilho divertido dos seus olhos –
principalmente se gostares mesmo de levar umas palmadas…
O
sorriso desapareceu-me imediatamente dos lábios e a minha boca abriu-se.
Wow!… aquele comentário não estava
previsto.
Subitamente
senti a garganta seca e o único consolo que tive foi que o sorriso dele lhe
desapareceu também. A história do ‘spanking’ que lera na net.
-
Agora assustei-te mesmo… – comentou com uma expressão estranha
Ficámos
mais de um minuto a olhar-nos mutuamente em silêncio. Eu não sabia bem o que
dizer. Não eram as palmadas, era o que poderia vir a seguir. Havia o levar umas
palmadas e o levar umas palmadas… mas não queria perguntar-lhe mais. Por outro
lado o seu olhar intenso sobre mim estava a deixar-me outra vez com a cabeça a
andar à roda e a tristeza nos seus olhos estava a deixar-me… triste também.
-
É uma pena. – acabou por dizer
-
O quê?
-
Que te tenhas assustado.
Não me assustaste!... pensei logo… acho eu…
Eu
olhei-o mais um momento, mas voltei a fixar o horizonte. O sol estava a pôr-se
e eu fiquei à espera que desaparecesse. O DJ, acho que em homenagem ao por do
sol, colocou um das minhas músicas favoritas… ‘If I loose myself’, dos ‘One
Republic’… reconheci-a aos primeiros acordes.
-
Ouve esta música! – disse-lhe
Não
olhei para ele, mas mantive-me atento e percebi que estava a ouvir com cuidado,
vi-o endireitar-se no refrão… ‘If I loose myself tonight, it will be by your side’.
As pessoas na praia
estavam todas a dançar aos pulos, acenando ao sol, despedindo-se, o final da
música a tocar alto, a batida era fantástica, o sol a desaparecer… o ambiente tornou-se
eletrizante, contagiante… toda a gente a vibrar com o momento, só nós dois
estávamos sentados quietos, ambos com as cadeiras de lado a olhar para o mar,
sem dizer uma palavra, sem mover um dedo, em absoluto silêncio. Eu tive tempo
para pensar e tive tempo para decidir o que fazer. Posso não ser inteligente,
não ser culto, mas tenho alguma experiência e sabia o que fazer para lutar por
um homem, fazia-o todos os dias há anos com o Pedro… tinha perdido, mas sabia
marcar posição. Sentia o olhar do Duarte sobre mim, quis tanto que ele percebesse
a mensagem.
Quando
a música acabou olhei-o nos olhos… achei que ele tinha percebido a canção, os
seus olhos brilhavam. Parecia ansioso, curioso, estava expectante. A caipirinha
bem abaixo da metade ajudou-me a tomar uma decisão… eu sabia que o queria,
desejava-o desde que lhe pusera a vista em cima e ele já o sabia perfeitamente,
estava habituado a isso… já percebera o efeito que tinha em mim, estava farto
de o perceber, por isso o que é que eu tinha a perder? Que se fodesse isto
tudo… até agora não me fizera nada, nem me prometera nada que eu não conhecesse
já… seria mais do mesmo, mas eu pelo menos saberia com o que contar, eu até
gostava, estava mais que habituado… o resto aprenderia como aprendera até
agora.
-
Eu não tenho medo de ti… – disse-lhe com toda a calma – e não me assusto
facilmente.
Ele
recuou na cadeira, inspirando profundamente… quase pareceu que estava a sorver
as minhas palavras. Tive impacto nele, percebi perfeitamente que tive, os seus
olhos faiscaram e pareceram devorar-me durante segundos, estavam em chamas.
-
Decididamente não tens nada de normal, Nuno! – disse num tom que parecia que
estava a falar mais para si próprio que para mim
-
Sou extra ordinário! – sorri-lhe
-
És surpreendente!
Senti-me
super bem. Tive vontade de bater palmas com a expressão que lhe via no rosto.
-
Surpreendi-te?
-
O que te parece?
-
Continuas interessado em conhecer-me?
-
Mais do que nunca… o dia de hoje foi o mais surpreendente e inesperado que eu
tive nos últimos meses!
-
Por minha causa? – ri deliciado
-
Sim, por tua causa… e posso dizer-te outra coisa, não sei o que se passou com o
teu ex, mas neste momento estou perfeitamente convencido que ele cometeu um
erro enorme e que foi ele que saiu a perder com o fim da vossa relação.
Foi
a minha vez de inspirar as suas palavras… caramba, ele dizia cada coisa, e
dizia-as de uma maneira…
-
Porque é que achas isso?
-
Porque estou mesmo convencido que és um miúdo muito especial e acho muito
estranho que ele te tenha trocado por quem quer que seja! – foi categórico nas
suas palavras
-
Ele não gosta de homens… quer dizer, gosta de estar com homens, mas não era o
que ele queria mesmo a sério, isto tudo já estava condenado à partida, acho eu…
custou-me muito, mas eu já sabia que isto ia acabar por acontecer.
-
Sempre soubeste?
-
Acho que sim, só não queria acreditar…
-
Estás apaixonado por ele? – o seu olhar gelou por um momento
-
Não sei. – respondi sinceramente – não sei mesmo, nem sei se alguma vez estive.
– encolhi os ombros – simplesmente foi o único homem que tive, ele nunca me
deixou… quer dizer, a única outra experiência que tive foi com o Chico e quando
ele descobriu foi o inferno…
-
Bom, nisso consigo compreende-lo perfeitamente, o sentimento de posse é uma
coisa que eu conheço bem.
-
Já percebi. – sorri acabando a caipirinha – controlador, possessivo, mandão…
sei muito bem o que isso é, não é nada novo, nem estranho, nem surpreendente…
nem mete medo…
-
Eu percebi isso nalgumas reações tuas…
-
A sério?
-
Reações automáticas que tens, apesar de dar para ver que não tiveste treino
formal…
Vi
perfeitamente que ele se arrependera imediatamente do que dissera.
-
Treino formal?
-
Tens fome? – perguntou voltando-se para trás à procura do empregado para lhe
acenar – vamos jantar!
Fiquei
a olhá-lo em silêncio. Ele estava a fugir ao assunto, estava a disfarçar,
estava a mudar de tema. Não sei se foi do álcool, se do que foi, mas aquilo
magoou-me… eu não estou habituado a beber muito e nunca fui muito de aguentar a
bebida, mas fiquei triste, fiquei mesmo… era a segunda vez que ele não me
respondia e desviava o assunto, porque é que ele não dizia as coisas
frontalmente quando era este assunto?
-
Não precisas fazer isso.
-
O quê? – retraiu-se
-
Se não me queres responder, não respondas, mas não desvies o assunto porque não
me consegues enganar, nem distrair, diz-me simplesmente que não queres falar
nisso… eu estive demasiado tempo com um homem assim para aguentar bem sem
explicações… a isso estou habituado…
-
Certo. – respondeu pensativo
-
Eu sei o que é ser controlado! – continuei – sei bem o que é ser considerado
uma espécie de propriedade, não poder sair com ninguém ou falar com ninguém…
sei também calar-me e aguentar a frustração de não saber das coisas… sei muito
bem o que é comer e calar! – foi a primeira vez que o vi perder a confiança e
engolir em seco
-
Entendo. – os seus olhos brilhavam – mas tu não paras de me surpreender?
-
Não sei… agora sei bem o que tu és, Duarte, podes não querer dizer porque… não
sei porquê, mas sei usar o Google… eu sei bem o que é treino formal e sei ainda
melhor o que é ser dominado! – calei-me finalmente, dissera a palavra como deve
ser e no contexto certo, a sério… vira a sua reação e não sabia o que dizer
mais… pelo menos tinha cuspido tudo, agora só sabia que tinha de sair dali e
rapidamente, levantei-me – vou lavar as mãos para o jantar.
Ele
estava de cara à banda, estava mesmo.
-
Nuno…
-
Não senhor, não vou fugir! – interrompi-o usando a expressão que vira na net e
de que ele gostava – vou só lavar as mãos…
Afastei-me
deixando-o literalmente de boca aberta.
Eu
não conseguia perceber porque é que estava triste, devia ser por não estar
habituado a ser tratado como uma criança, era mais ou menos isso. Nisso o Pedro
podia ter muitos defeitos, e eu podia enumera-los a todos, mas sempre fora
perfeitamente franco comigo, com ele sempre fora tudo ‘preto no branco’, nunca
desviara assuntos, nunca deixara nada por dizer a não ser que me respondesse
‘não tens nada com isso, acabou o assunto’. Eu podia espernear, suplicar, mas
nunca me tratara como uma criança que não aguenta, ou um ‘atrasadinho’ que não
conseguia compreender nada… nunca desviara o assunto, nunca disfarçara e nunca
me passara um atestado de estupidez… acho que foi isso que me magoou.
Tive
de sorrir ao lembrar-me do Duarte de olhos esbugalhados a olhar para mim quando
eu dissera ‘não senhor’. Sabia que ele gostava, o Pedro não era bem assim, era
simplesmente bruto e abusador, não passava disso, acho que nem sabia que aquela
forma de tratamento existia. O Duarte sabia, tinha-mo dito ontem, tinha-mo
pedido hoje, era assim que ele era e surpreendera-o ao dizer-lhe aquilo… não o
facto de o ouvir, mas eu tê-lo dito assim, sem problemas; não tinha duvida
nenhuma que fora isso.
O
que eu não percebia era porque é que ele não me queria dizer as coisas como
deve ser, o porquê daquilo tudo, de tanta renitência, eu estava careca de
perceber… as ordens, o ser possessivo, o ser controlador, a história das
palmadas e agora a história do treino… eu tinha acabado de ler sobre isso… e ele
tinha-o dito, porra. Se calhar pensava que eu não sabia as verdadeiras
implicações disso, ou então tinha realmente medo que eu me assustasse.
Mas
também… a ideia ocorreu-me de repente… conhecêramo-nos há pouco mais de 24
horas… seria isso? Estaria a querer levar as coisas com calma? Se calhar achava
que eu era algum inocente que… tive de me rir, eu já não era inocente há tanto
tempo. Se calhar a paranoia dele com o assustar-me… ele podia estar com medo de
estar a andar depressa demais. Ele tinha dito que estava interessado em mim,
que eu o atraía, que me queria conhecer melhor, que me queria só para ele…
tinha dito isso tudo… e até me tinha beijado… era isso, era eu que estava a
andar depressa demais, a ser impaciente… mas foda-se, eu queria-o tanto… oh, merda!
Eu
era capaz de ter calma, de ser paciente e de ser submisso… o dominador era ele,
portanto ele mandava e eu obedecia, aprenderia as coisas ao ritmo que ele
determinasse.
A
ideia dele estar com medo de ir depressa demais e me assustar tranquilizou-me…
achei que era isso… senti-me mais calmo e menos stressado porque percebi que o
problema não estava a ser ele, estava a ser eu… eu é que estava a ser
impaciente e a pressiona-lo… a net dissera que não podia haver pressões neste
tipo de relação. Eu já lhe dera todas as indicações que ele precisava ter, já
lhe dissera que estava habituado a um controlador possessivo, estava habituado
a ser dominado, a… tudo… agora iria mostrar-lhe que também sabia manter a boca
calada e só falar quando me dirigissem a palavra como lera… era verdade que já
o enfrentara mais que uma vez, mas isso eu sempre fizera com o Pedro e iria
fazer com todos… ele dissera que gostava desse meu lado selvagem, agora iria
mostrar que era capaz de ser mesmo obediente e dócil… e queria mesmo sê-lo com
ele.
Está decidido!
Parte 8
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